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quarta-feira, 9 de junho de 2010

A poesia trovadoresca galego-portuguesa

A-. Perspectiva geral da poesia trovadoresca galego-portuguesa

A poesia trovadoresca em língua portuguesa (chamada comummente «Poesia trovadoresca galego-portuguesa») estende-se num período que vai aproximadamente desde 1200 até 1350. Abrange portanto uns 150 anos, que correspondem aos inícios da história literária da nossa língua. Compreende um total de aproximadamente 2100 composições, das quais umas 1680 são de carácter profano e 420 de carácter religioso. Foram compostas por uns 160 autores.

Costuma distribuir-se a nossa poesia trovadoresca em dois grandes blocos: por uma parte, as cantigas profanas (amorosas e satíricas fundamentalmente), e, por outra, as cantigas religiosas (constituídas fundamentalmente pelas Cantigas de Santa Maria, mormente mariológicas).

1) As cantigas profanas: géneros

Como dizíamos, é de aproximadamente 1680 o número total de cantigas profanas.

Esse rico corpus poético aparece distribuído fundamentalmente em três grandes géneros: «cantigas de amor», «cantigas de amigo», e as composições satíricas ou «cantigas de escárnio e maldizer».

1). Cantigas de amor. Aparecem postas em boca do homem namorado, que se dirige à sua amada (à qual chama habitualmente "[mià] senhor") ou fala dela. Em grande medida desenvolvem conceitos e técnicas poéticas tomadas da poesia trovadoresca provençal.

2). Cantigas de amigo. São poemas de mulher, postos normalmente em boca da rapariga namorada, que se dirige ao seu amigo ou fala dele. Constituem a parte mais original e de maior enlevo do trovadorismo de língua portuguesa.

3). Cantigas de escárnio. São burlas versificadas, dirigidas a pessoas individuais ou a grupos sociais sobre assuntos diversos (literários, profissionais, sexuais, económicos, políticos...).

Ademais destes três grandes géneros, podem distinguir-se –às vezes até integrados neles– outros, conhecidos habitualmente como «géneros menores», por ser reduzido o número de composições que os constituem: tenção, pastorela, pranto...

2) As cantigas religiosas: as Cantigas de Santa Maria (= CSM)

As cantigas trovadorescas religiosas são conhecidas com o título genérico de Cantigas de Santa Maria. Esta denominação pode considerar-se exacta, visto que, embora num total de 420 composições exista um pequeno grupo de 5 que não são de tema mariológico mas cristológico, o conjunto nasceu e está organizado como um florilégio de cantigas em honor da Virgem Maria, de modo que os 5 poemas cristológicos possuem mais bem carácter de apêndice ou de excurso.

As Cantigas de Santa Maria (abreviadamente CSM) foram elaboradas na corte do rei Afonso x de Castela (1221-1284; rei entre 1252 e 1284).

Como modalidades de género dentro do conjunto das CSM, há duas fundamentais: cantigas de louvor (loor na denominação medieval) e cantigas de milagres. As cantigas de louvor são poemas de índole lírica, que louvam diversos aspectos da figura da Virgem Maria; destacam pela sua variedade formal, e, dentro da colecção das CSM, aparecem colocadas intencionalmente nos números correspondentes às decenas (10, 20, 30, etc.). As cantigas de milagres são de índole narrativa: contam milagres realizados pela Virgem; muitas vezes esses relatos procedem de fontes narrativas anteriores (mormente latino-medievais).

A essas 420 composições das CSM podemos acrescentar outras duas, igualmente mariológicas, que nos foram transmitidas fora dos 4 códices das CSM: a primeira delas aparece incluída no cancioneiro B da poesia profana, sob a autoria do mesmo rei Afonso x, e a segunda conservou-se anónima num códice monacal latino de temática teológica e vem sendo atribuída conjecturalmente ao rei Fernando iii de Castela (1201-1252; rei de Castela desde 1217, e de Leão desde 1230), pai de Afonso x.

Em total, portanto, são 422 as composições trovadorescas em língua portuguesa que constituem o bloco de cantigas religiosas.

Um problema já clássico na investigação sobre Afonso X é o do papel do rei na elaboração das suas obras literárias em geral, e, nomeadamente, das poesias em língua portuguesa, e, com mais forte dúvida ainda, numa colectânea de tão amplas dimensões como são as CSM. Detenhamo-nos um momento em formular algumas indicações sobre este tema.

Parece lógico atribuir a maior parte do trabalho de redacção, pelo menos no seu aspecto mais directamente linguístico, aos trovadores de fala portuguesa presentes na sua corte, entre os quais, segundo podemos supor, deviam de ser especialmente numerosos os galegos, por ser o território da Galiza um "reino" englobado nos seus domínios, mas está bem documentada igualmente a presença dalguns trovadores do reino de Portugal.

3) Características formais gerais da poesia trovadoresca

Desde o ponto de vista formal, as unidades fundamentais que constituem as composições trovadorescas são o verso e a estrofe.

O verso. Por sua vez, os elementos fundamentais constitutivos do verso na poesia trovadoresca são dois: a medida silábica e a rima.

1) A medida silábica. A respeito da medida silábica, o princípio fundamental é a regularidade estrófica: pode haver dentro de uma mesma estrofe versos de diferentes medidas, mas aplica-se o mesmo esquema métrico a todas as estrofes que constituem a cantiga (excepto nos «descordos», um tipo de cantigas que por definição apresenta uma constituição estrófica irregular ou "discordante").

Versos graves e agudos (por exemplo, de 7' e 7; de 8' e 8; de 9' e 9; etc.) podem combinar-se livremente numa mesma composição, considerando-se normalmente isométricos. A este respeito uma situação peculiar –que no entanto não deve considerar-se propriamente excepção à regularidade métrica– é a chamada «lei de Mussafia», segundo a qual um verso grave torna-se equivalente do verso agudo que possui uma sílaba (métrica) mais (7' = 8; 8' = 9; 9' = 10; etc.).

2) A rima. A rima pode ser oxítona (aguda) ou paroxítona (grave). Predomina a rima consoante, embora apareçam também um certo número de casos de rima assoante, quase exclusivamente nas cantigas de amigo e nas satíricas.

A estrofe. O número de estrofes que possuem as diferentes cantigas do corpus trovadoresco é variável. São bastantes as cantigas que se apresentam nos manuscritos como monostróficas; de algumas podemos suspeitar se no curso da transmissão textual se terão perdido outras estrofes, mas de várias cantigas monostróficas parece mais provável que tenham sido compostas assim intencionadamente pelos próprios autores. No entanto, a grande maioria das cantigas são polistróficas: possuem pelo menos duas estrofes completas; e é neste tipo de composições onde podemos observar o funcionamento da estrofe como unidade de composição poética.

O primeiro que devemos notar é que, também a respeito das estrofes, a característica basilar da nossa poesia trovadoresca é a regularidade: o normal é que em todas as estrofes de uma cantiga se mantenha não só o mesmo esquema métrico mas também a mesma fórmula rimática (exceptuando também aqui os descordos).

Cumpre notar ainda duas particularidades estróficas das cantigas polistróficas: o refrão e a finda.

O refrão. As estrofes de uma cantiga podem apresentar um ou vários versos completos que se repetem em todas elas na mesma posição: é o «refrão». Segundo possuam ou não refrão, as cantigas denominam-se «cantigas de refrão» ou «cantigas de mestria».

O refrão pode estar constituído por um único verso («refrão monóstico»), por dois («refrão dístico»), por três («refrão trístico»), por quatro («refrão tetrástico»), raramente por cinco («refrão pentástico») ou mesmo por um número de versos superior a 5.

Normalmente o refrão está constituído por um bloco textual único (formado, como fica explicado, por um ou por vários versos), que ocupa a parte conclusiva de cada estrofe. Por vezes, porém, o refrão está formado por dois ou mais blocos textuais, porquanto algum dos seus versos aparece intercalado no interior do texto variável das estrofes (isto é, seguido de algum verso distinto em cada estrofe); este tipo de refrão recebe o nome de «refrão intercalar».

Nalguns casos o refrão final de estrofe aparece ademais como início da cantiga. Este facto é raro nas cantigas profanas, mas habitual nas CSM.

Dado que o elemento constitutivo do refrão é a reiteração polistrófica, não tem sentido falar de refrão naquelas composições que, na sua constituição original, não alcançam a extensão de, pelo menos, duas estrofes substancialmente completas.

A finda. Caso especial de estrofe é a «finda»: é uma conclusão da cantiga, uma espécie de estrofe final (por vezes múltipla), mas normalmente de configuração mais breve que as estrofes normais e, em qualquer caso, com esquema métrico-rimático distinto –embora de regra dependente– delas.

Trovadorismo - sua pesquisa

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Iluminura medieval: trovador


Podemos dizer que o trovadorismo foi a primeira manifestação literária da língua portuguesa. Surgiu no século XII, em plena Idade Média, período em que Portugal estava no processo de formação nacional.

Marco inicial

O marco inicial do Trovadorismo é a “Cantiga da Ribeirinha” (conhecida também como “Cantiga da Garvaia”), escrita por Paio Soares de Taveirós no ano de 1189. Esta fase da literatura portuguesa vai até o ano de 1418, quando começa o Quinhentismo.

Trovadores

Na lírica medieval, os trovadores eram os artistas de origem nobre, que compunham e cantavam, com o acompanhamento de instrumentos musicais, as cantigas (poesias cantadas). Estas cantigas eram manuscritas e reunidas em livros, conhecidos como Cancioneiros. Temos conhecimento de apenas três Cancioneiros. São eles: “Cancioneiro da Biblioteca”, “Cancioneiro da Ajuda” e “Cancioneiro da Vaticana”.

Os trovadores de maior destaque na lírica galego-portuguesa são: Dom Duarte, Dom Dinis, Paio Soares de Taveirós, João Garcia de Guilhade, Aires Nunes e Meendinho.

No trovadorismo galego-português, as cantigas são divididas em: Satíricas (Cantigas de Maldizer e Cantigas de Escárnio) e Líricas (Cantigas de Amor e Cantigas de Amigo).

Cantigas de Maldizer: através delas, os trovadores faziam sátiras diretas, chegando muitas vezes a agressões verbais. Em algumas situações eram utilizados palavrões. O nome da pessoa satirizada podia aparecer explicitamente na cantiga ou não.

Cantigas de Escárnio: nestas cantigas o nome da pessoa satirizada não aparecia. As sátiras eram feitas de forma indireta, utilizando-se de duplos sentidos.

Cantigas de Amor: neste tipo de cantiga o trovador destaca todas as qualidades da mulher amada, colocando-se numa posição inferior (de vassalo) a ela. O tema mais comum é o amor não correspondido. As cantigas de amor reproduzem o sistema hierárquico na época do feudalismo, pois o trovador passa a ser o vassalo da amada (suserana) e espera receber um benefício em troca de seus “serviços” (as trovas, o amor dispensado, sofrimento pelo amor não correspondido).

Cantigas de Amigo: enquanto nas Cantigas de Amor o eu-lírico é um homem, nas de Amigo é uma mulher (embora os escritores fossem homens). A palavra amigo nestas cantigas tem o significado de namorado. O tema principal é a lamentação da mulher pela falta do amado.